segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Endometriose - O Mal Silencioso

Olá amigas e amigos, vou contar para voces o que a endometriose fez comigo.
Minha puberdade foi precoce aos 11 anos, e desde então eu sofria com cólicas horríveis, daquelas de deixar até "verde" de tanta dor, de ficar de cama no meu período menstrual. Minha mãe sempre me levava aos médicos, mas a resposta era sempre a mesma, isso é cólica, dismenorréia (A Dismenorreia, também conhecida como cólica menstrual, é uma dor pélvica que ocorre antes ou durante o período menstrual, que afeta cerca de 50% das mulheres em idade fértil. Pode ser primária ou secundária, dependendo da existência ou não de alterações estruturais do aparelho reprodutivo e são extremamente fortes). Nunca nenhum dos médicos que passei em minha cidade pediu um exame sequer... nada, nem um ultrassom; era um martírio, eu tomava chá de losna que minha avó fazia para mim (quem não conhece losna é uma erva para dores de cólicas que antigamente se fazia muito, mas é amarga pra caramba, muito amarga mesmoooo), pois então eu tomava copos e mais copos do chá como se fosse água, o gosto ruim eu nem sentia de tanta dor que eu passava.
Em 2004 tive uma dor tão violenta que os médicos me internaram achando que eu estava com apendicite, fizeram exames, marcaram a cirurgia, mas 1 dia antes de operar a dor sumiu como num passe de mágica, então me deram alta.
Depois daquilo mês a mês as cólicas eram sempre intensas. Em 2006 eu tinha 26 anos, nunca fumei, nunca bebi nada alcóolico, pois não gosto, nunca usei drogas, quando num belo dia eu estava trabalhando e fui para casa almoçar como de costume, eu não estava sentindo absolutamente nada quando senti uma dor tremenda na região do abdomem, como se fosse cólica intestinal, dor de barriga, aquela dor de "coxar"... A partir dali a dor não parou mais, procurei vários médicos pois a dor só piorava, e todos davam o mesmo diagnóstico: Virose.... medicavam, colocavam lá um soro e me mandavam embora para casa, e eu só piorava, todos os dias eu estava no pronto atendimento, passei por 11 médicos, cada um começou a dizer coisas diferentes, como, vesícula, apendice... até que tive que ser internada as pressas por ter tido a 1ª parada cárdio-respiratória.
Na minha cidade não há UTI, não há hospitais que atendam pessoas em estado grave e o meu caso ja era considerado gravíssimo. E eu só consegui uma vaga no hospital porque o médico que me atendeu por último era amigo da família, pediu um hemograma e viu que eu tinha perdido 60% do sangue do organismo, e que se eu não tomasse sangue imediatamente ia morrer. Então fiquei internada 3 dias tomando sangue, mas o mais impressionante é que eu não tive nenhuma hemorragia externa, nada, o sangue estava sumindo e ninguém sabia o porque e nem para onde ele ia, foi por isso que sofri a parada cárdio-respiratória, não tinha sangue...
Esse mesmo médico conseguiu para mim (tudo pelo SUS, pois não tinha plano de saúde) uma consulta com uma médica hematologista na cidade vizinha, pois ele achava que eu estava com leucemia, devido o sangue sumir, e um dia antes da consulta minha barriga inchou, mas inchou tanto que parecia que eu estava grávida de uns 6 meses...
A Drª me atendeu pediu uns 20 exames de sangue que fiz na hora, pois ela atendia num Hospital Universitário e pelos meus sintomas ela achou que eu poderia sim estar com leucemia ou anemia hemolítica, e pediu para eu ficar na cidade para que quando saísse o resultado dos exames eu fosse internada, mas não havia leitos. No dia seguinte eu tive a 2ª parada cárdio-respiratória, entrei em choque, porque todo sangue que eu havia tomado ja tinha sumido denovo... Foi então que fui para um hospital particular onde me reanimaram para que eu pudesse ser transferida para o Hospital Escola, e no dia seguinte pela manhã fui internada lá.
O Hospital Escola foi minha casa por 1 mês e meio, juntamente com minha mãe, pois ela não me abandonou nehum minuto, ela não poderia ficar comigo pois eu tina 26 anos e dizem que só é permitido acompanhantes para pessoas com mais de 65 anos e crianças e adolescentes até 18 anos, mas voces conhecem a "Lei Covas"? pois é essa lei estadual (SP) é ótima foi sansionada pelo ex-goverandor do Estado Mário Covas que antes de morrer foi atendido pelo sus e viu a necessidade das pessoas, existem um artigo nessa lei, o artigo XV que garante acompanhante em consultas e internações independente de idade e se essa for a vontade do paciente, fora outras coisas muito boas nessa lei. 
Para quem quiser consultar a lei e imprimi-la é só clicar aqui: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1999/lei%20n.10.241,%20de%2017.03.1999.htm (é muito bom andar com ela na carteira). Minha mãe só conseguiu ficar comigo porque chamou a policia para fazer valer a lei e eu não tinha condições nenhuma de ficar só, eu não conseguia ficar em pé, só faltou eu usar fraldas... de tão fraca que fiquei.
Ninguém sabia o que estava acontecendo comigo, tomava sangue e o sangue sumia, tomava e sumia... Fiz uma bateria de exames até que descobriram na tomografia um líquido no meu pulmão, o pulmão direiro estava cheio de um líquido e precisava ser drenado.
Na punsão veio a surpresa, não era líquido, era sangue... Relutei um pouco para colocar o tal "dreno", mas eu estava piorando cada vez mais... Quando internei eu estava pesando 39 Kg, depois cai para 35kg e depois para 33 Kg, era preciso drenar, não tinha como escapatória, então permiti o procedimento....
Meu Deus, colocar o dreno é um procedimento de quarto mesmo, a anestesia é apenas local para não sentir o corte do bisturi na pele, mas a colocação do dreno é a morte em vida! putz... achei que ia morrer, eles colocando aquela borracha da espessura de mangueira de jardim no meio das minhas costelas para perfurar o pulmão... Só por Deus, doeu muito, fiquei uma noite toda entubada porque não conseguia respirar....consciente....
E os exames continuavam, os médicos de todas as especialidades juntamente com os residentes passavem todos os dias no meu quarto, eu parecia atração de circo.
No hospital escola eles judiaram muito de minha mãe, não davam alimentação, não deixavam ela tomar banho, então eu não comia, ou comia muito pouco quando conseguia e ela comia minha comida, nós dividíamos, e como ficamos amigas de algumas enfermeiras plantonistas de dois em dois dias de madrugada elas deixavam minha mãe tomar banho, porque se ela saísse do hospital eles não iam deixá-la entrar novamente. Minha mãe passou 45 dias dormindo sentada nuna cadeira...
O Hospital Escola é muito bom, eles descobrem o que temos, mas somos tratados como "um corpo" que tem "uma doença" que eles precisam descobrir o que é e tratar, se o paciente tem sentimentos, isso não importa para eles...
Fizemos amigos dos leitos vizinhos, uns morreram, outros tiveram alta e foram embora e eu lá... 
Tiago meu marido, fazia apenas 2 semanas que estávamos namorando quando fiquei doente... e ele se manteve firme e forte, sempre do meu lado, ajudando em tudo que podia eu e minha mãe.
Bom, mas voltando a falar da doença, foi uma simples ultrassonografia pélvica que mostrou que havia algo errado com meu ovário direito, ele estava muito maior que o esquerdo, estava 10 vezes maior, ele tinha o tamanho de um abacate médio... Mas ainda não era um diagnóstico.... Chutaram de tudo, tuberculose ovariana, câncer e outras patologias..
Então marcaram a cirurgia, não havia mais o que fazer a não ser olhar por dentro para ver o que estava errado.
Deus foi tão bom comigo que o cirurgião veio de São Paulo naquela semana para fazer minha cirurgia a pedido do chefe do departamento de ginecologia. E na cirugia o médico achou no ovário direito um tumor imenso, fizeram biopsia e era benigno, feito de endometriose.... 

O Endométrio é essa "pélinha" que recobre nosso útero, e que por algum motivo sai de dentro do útero e se prende em outros órgãos causando sérios danos.

A endometriose fez o tumor no meu ovário, e se espalhou pelo meu organismo, pegou na bexiga, nos ovários, nas trompas, nos intestinos grosseo e delgado e meu pulmão, por isso o sangue estava lá... Quando eu mesntruava, o tumor sugava todo o sangue, mas ele entrou em colapso e expeliu o sangue para os outros órgãos que não tínham como armazenar o sangue jogaram tudo para dentro do meu pulmão.. Eis o diagnóstico: "Endometriose Pulmonar" - 2º caso no Brasil - 8º caso no mundo naquela época... ô sortuda né... poderia bem ter ganho na megasena, seria mais fácil, rsrsrsrsr
E esse médico da Santa Casa de Misericórdia de SP que me operou foi quem operou a mulher do Recife que também teve esse mesmo problema..
Meu caso foi para simpósio na Europa, e eu fui para 29Kg....
Na cirurgia retiraram meu ovário direito, a trompa direita, 1/3 da minha bexiga, um pedaço da trompa esquerda, limparam os focos possíveis dos intestinos e do pulmão. A recuperação foi lenta e muito difícil, passei até por um período curto de quimioterapia por causa da endometriose, o que me causou danos que até hoje estou tratando no sistema gastro-intestinal. Me induziram a uma menopausa precoce de 6 meses.... que horror... senti fogachos (calores), insonia, alteração de humor, alteração de apetite, e até hoje uso um implante para não menstruar mais. Não posso mais ter filhos de forma natural, mas para mim isso nunca foi um problema, pois nunca quis ter filhos e Tiago também não quer ter filhos, até nisso Deus acertou...
A medicina não tem uma explicação para a endometriose, mas ela é silenciosa e pode ter consequências muito ruins, deixar mulheres estéreis, ou até mesmo matar.
Então a qualquer sinal de cólicas muito fortes, intensas, procure seu médico e peça exames específicos para endometriose.
Há médicos que dizem que é uma doença de mulheres modernas que protelam ter filhos para se dedicarem ao trabalho, aos estudos e com isso menstruam mais descontrolando o ciclo "normal" da procriação e de uma má alimentação... 
Mesmo assim, endometriose tem cura, e quanto antes descoberta menos dor e sofrimento.
Existe um site da ABEND (Associação Brasilera de Endometriose): http://www.endometriose.org.br/abend_site/site/links.asp que possui muitos relatos e presta esclarecimentos.
Se hoje estou aqui, foi porque Deus permitiu!
Abraços.

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